Mais uma vez a cidade de Manaus figura entre as piores do país no que diz respeito a melhorias na infraestrutura para além daqueles que usam carro, no caso os ciclistas, nos últimos anos.
Segundo levantamento do G1 realizado no mês de julho deste ano, as capitais do país, juntas, já somam 3.291 km de vias destinadas às bicicletas, o que representa um aumento de 133% em quatro anos.
Muito embora os números mostrem um crescimento expressivo, considerando que em 2014 eram 1.414 km de ciclovias, ciclorrotas e ciclofaixas, ainda persiste uma enorme injustiça espacial, pois, se comparado com a malha viária total de tais cidades, a estrutura cicloviária representa apenas 3,1%.
Especificamente sobre a capital amazonense, os números envergonham e espelham uma realidade tão peculiar quanto contraditória da cidade. Muito embora Manaus seja considerada a capital da Amazônia, em termos ambientais nunca foi exemplo, além do que todo esse descaso com o meio ambiente e com a mobilidade urbana ativa e sustentável expressa muito bem o modelo de gestão arcaico e descompromissado que impera na cidade já há algumas décadas. Não há compromisso com as pessoas, tampouco com o meio ambiente, o que faz com que a capital amazonense amargue o último lugar entre as capitais levando em conta a proporcionalidade de malha viária total da cidade com a destinada para os usuários da bicicleta.
São vergonhosos 0,85% de malha cicloviária em relação à malha viária total da cidade, evidenciando um modelo de urbanização ultrapassado, que privilegia carros, ruas e asfalto em detrimento do meio ambiente e das pessoas, indo na contramão da tendência mundial de desmotorização das cidades e preocupação com os efeitos da poluição urbana na saúde da população e do planeta.
Aliás, os exemplos de boa governança de forma a privilegiar pessoas, estimulando meios de transportes sustentáveis e ativos também como forma de preservação dos recursos naturais, nem precisam vir de outros países. Nossa vizinha capital acreana, Rio Branco, já dá exemplo de cidade que tem trabalhado nas últimas décadas para promover a cultura sustentável, valorizando o homem da floresta e a mata em pé, promovendo políticas públicas que valorizam as pessoas como um todo e não somente os motoristas de carros, destinando muitos espaços na cidade para parques e passeios onde carros não são bem vindos e hoje está no topo da lista com 13,38% da proporção de malha cicloviária, ficando, inclusive, à frente de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Manaus, inclusive, já é conhecida no cenário nacional como a provável pior cidade do Brasil para se pedalar, segundo a bikereporter e cicloativista Renata Falzoni em declaração dada na sua coluna semanal na CBN SP, nesta última segunda-feira. E nem se diga que isso se deve só ao clima ou à geografia da cidade, mas, acima de tudo por conta do modelo rodoviarista da cidade, a intensa motorização, agressividade dos motoristas e ausência de arborização.
Todas essas circunstâncias nos fazem crer que Manaus nunca avançará enquanto políticas públicas voltadas ao meio ambiente e para as pessoas não forem levadas a sério e enquanto interesses dos outros que não o bem estar da população for colocado em primeiro lugar. Já é hora do povo manauara entender seu papel nesse processo de mudança, mas, sobretudo, já é hora de reconhecer o tamanho do problema que a cidade enfrenta em termos de mobilidade e sustentabilidade, para, motivados por isso, buscar o melhor para todos.