Os transportes ativos foram os grandes vencedores da sétima edição do desafio intermodal

Por Nádia Aguiar

Durante a semana da mobilidade urbana realizada no período de 19 a 25 de setembro, o Movimento Pedala Manaus realizou pelo sétimo ano consecutivo o Desafio Intermodal, cujo objetivo é medir a eficiência dos meios transportes que estão disponíveis à  população, bem como, com os resultados finais, traçar um panorama da cena urbana no que diz respeito à existência e eficiência das políticas públicas voltadas à mobilidade urbana.

Os resultados não foram surpreendentes do ponto de vista da eficiência dos meios movidos à propulsão humana, como bicicleta, pedestrianismo, corrida, skate e patins, mas foram alarmantes ao se tratar dos meios de transporte coletivos, aqueles que transportam a maioria da população e que, portanto, deveriam receber tratamento prioritário pelo poder público.

Foi utilizada uma variação da metodologia da ONG CicloUrbano de Aracajú para avaliações objetiva e subjetiva dos resultados, feitas de maneira a ordenar todos os critérios numa escala de pontos, com a totalização de cada um deles e uma média para se chegar ao resultado final.

Para cada critério avaliado, o primeiro colocado somou o número de pontos igual ao da quantidade de participantes, que neste desafio foi 14. Para cada posição abaixo a pontuação será obtida atribuindo o valor total de participantes menos os que chegaram antes. Ou seja, para o segundo serão 13 pontos, 12 para o terceiro, 11 para o quarto, e assim sucessivamente. Por serem 14 meios de transporte, a avaliação será realizada utilizando notas de um (pior nota) a 14 (melhor nota).  Quando houver empate os modais obterão a mesma nota. Neste caso, a nota do modal seguinte não será dada em função do próximo número da sequência numérica, mas descontando o número de modais que empataram. Não foram considerados custos de aquisição, depreciação, manutenção, estacionamento ou outros possíveis.

O vencedor do desafio 2016, pela sexta vez foi a bicicleta (na única edição que a bicicleta perdeu, o ganhador foi o patins), e para obtenção desse resultado foram analisados vários fatores, dentre eles, tempo de deslocamento, custo e emissão de poluentes. O fato de a bicicleta ser um meio de transporte  acessível, rápido, de baixo custo, sustentável e que não ocupa espaço alça este modal ao topo da lista, consagrando-a mais uma vez como uma alternativa viável e que merece receber atenção do poder público.

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Além da bicicleta, o skate e patins mostraram que para muitos eles podem servir como instrumento de locomoção na cidade. O competidor que utilizou o skate veio acompanhado de seu filho de 12 anos e nos presentearam com mais essa constatação, é sim possível subverter a “ordem” e a ditadura carrocentrista diversificando nossos meios de locomoção.

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O veículo de transporte individual, representado no desafio pelo automóvel particular e pelo táxi, além do alto custo, mostraram mais uma vez sua incapacidade em vencer o caos do trânsito, ocupando as últimas colocações no ranking.

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Mas o desafio foi além e escancarou uma realidade já conhecida, mas muito ignorada, o real atentado à dignidade humana imposta pelo péssimo serviço de transporte público prestado ao cidadão. Com um custo altíssimo, o transporte público convencional ocupou as últimas colocações e impõe a população um verdadeiro calvário. O competidor que utilizou o transporte coletivo, seja convencional, articulado ou executivo, pois, sofreu com a falta de regularidade, com o congestionamento e com o preço da tarifa.

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O desafio intermodal evidenciou uma realidade latente e muito sensível ao poder público em face do impacto negativo que mudanças necessárias no campo da modalidade acarretam.

O resultado abaixo prova mais uma vez que, levando em consideração os critérios de custo, tempo e emissão de poluentes, os transportes ativos saem na frente, ocupando as sete primeiras colocações, no entanto, são totalmente ignorados e excluídos do planejamento da cidade.

Mas, uma surpresa agradável desta edição foi a corrida. O corredor levou menos tempo que ônibus e carros, mostrando eficiência e a necessidade de se começar a pensar em empresas preocupadas com a saúde e o meio ambiente, que incentivem seus funcionários a deixar o carro mais em casa, e ainda, disponibilizando vestiários e banheiros adequados, o que também representaria uma economia com transporte.

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Lamentavelmente, mesmo com tantas possibilidades e evidências de que é urgente, necessário e possível diversificar os meios de transporte da população, nada de concreto se pode perceber até hoje. Numa cidade que anda em descompasso com os meios de transporte sustentáveis, coletivos e que não ocupam espaço, pensar nestas mudanças pode parecer utopia, mas elas devem ocorrer e não será porque o poder público quer, mas porque a cidade que hoje caminha para o caos, não terá outra saída. Que estejamos vivos até lá!

Fotos: Nádia Aguiar

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