Desde a Pedalada Ambiental da Infraero, quando acompanhava de dentro do meu carro o passeio da Infraero, fiquei refletindo e pensando sobre algumas coisas e achei que seria legal compartilhar com vocês.
Por Nadia Aguiar
Fiquei pensando o quanto estava cansada, pois acordei as 6h da manhã, deixei Paulo no trabalho às 7h, peguei exata uma hora de engarrafamento da Torquato Tapajós até o Fórum Trabalhista da Djalma, tive uma audiência às 8h20 e outra às 12h20, saí do Fórum 13h30, corri pro escritório para agilizar meus afazeres, pois tinha uma reunião às 14h e ainda queria acompanhar Paulo na consulta às 17h00 e em sua primeira sessão de acupuntura. Saímos do consultório às 18h30, pegamos um baita trânsito da Djalma até o aeroporto, mas chegamos. Já no evento tentamos colaborar ao máximo e depois de tudo nosso dia acabou faltando meia hora para acabar o dia.
No decorrer do passeio, de dentro do conforto do meu carro andando a 10 km/h, fiquei pensando e compartilhei isso com Paulo, depois de um dia desses, o que ainda nos movia e nos motivava a estar ali, naquele horário, cansados, sem comer (comemos um salgado que comprei no caminho dentro do carro mesmo) e eu sem ter sequer tomado um banho depois do banho da manhã e qual a explicação para o fato de, mesmo com tudo isso, ainda estarmos felizes, satisfeitos e com total disposição para irmos até mais além se necessário. Como apoio, eu e Paulo ficamos atrás sempre dos últimos ciclistas, aí fui vendo que não só nós, mas tantos outros estavam ali na mesmíssima situação. Fiquei observando os monitores (figuras importantíssimas e fundamentais), Manoel, Alexandre, Henrique, Erivan, Flávio, Fabiano, Newton, entre outros. Aquilo também os movia a estar ali e de repente, pensando muito bem no trabalho que eles fazem e que nós fazemos, me emocionei, e isso porque no fundo no fundo, o que eles fazem e o que nós fazemos é o bem sem olhar pra quem e sem esperar nada em troca.
Os monitores ontem (e sempre na verdade) me ensinaram uma lição, dedicar seu tempo, o tempo em que podiam estar descansando em suas casas, com suas famílias, jantando, assistindo um filme, novela, noticiário, indo para a Ponta Negra com os filhos, sei lá, qualquer coisa, a fazer algo que não vai lhes render absolutamente nada a não ser a satisfação e a sensação dever cumprido. O fato é que eles renunciam tudo isso para fazer algo em prol de outros e da sociedade sem esperar absolutamente nada em troca, eles não sabem das articulações do movimento, eles não tem sequer perspectiva alguma de lucrar com isso, enfim, eles fazem tudo de boa vontade mesmo e somente pelo compromisso de ser um tijolinho na construção de uma cidade mais humana para os ciclistas. Olhando para eles, cheguei à conclusão que o dia em que nossos olhos pararem de brilhar, que nossas pernas não quiserem mais nos levar e que o noticiário ou a novela das nove (que eu adoro assistir e ia ser o bicho porque o Jorginho iria descobrir que a Carminha é sua mãe de verdade) forem mais importante que o trabalho que fazemos, acho que o nosso movimento estará fadado ao insucesso.
Cheguei à conclusão que o dia em que o nosso combustível não mais for a satisfação em ver o outro feliz e realizado, que a nossa satisfação não mais for trabalhar e dedicar-nos em prol de um futuro melhor, não só pra nós mas para a coletividade, que o dia em que o que fazemos deixar de ser movido pela consciência de cidadão em mudar as condições de infraestrutura da cidade e contribuir para a preservação do meio ambiente, o dia em que deixarmos de fazer o bem sem olhar pra quem, apenas em sentir uma profunda satisfação pessoal em ajudar o próximo, é nesse dia que o nosso movimento acaba. Nada do que fiz até hoje, e não foi muita coisa eu sei, e tenho certeza que esse é também o sentimento de Paulo, foi esperando algo em troca, mas tão somente pela enorme felicidade que sentimos em ser voluntários e ver as pessoas realizadas e felizes, proporcionar algo de bom para outros é maravilhoso e isso paga qualquer sacrifício.
Por fim, fiquei tocada com a historia da Socorro, funcionária da Infraero, última pedaleira a chegar e que foi até o fim sem desistir, mesmo com tanta limitação pessoal (um AVC, um aneurisma e uma vida sedentária), mas estava ali e mesmo esgotada fisicamente era categórica ao dizer que baniu do seu dicionário a palavra “desistir” e que mesmo que chegasse amanhã iria até o final, e quem estava lá ao lado dela, nosso monitor Henrique, nos ensinando mais uma vez a lição de que é feliz aquele que se sente realizado em fazer o bem sem esperar nada em troca.
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*Nadia Aguiar é coordenadora do Pedala Manaus.